terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Flores nas Paredes




O sol não molha ninguém

mas mesmo o sol
eu posso me banhar
luz rasga o céu com fervor
traga um amor
quero ferver também;


O que não sei mais sentir

quero viver
e me machucar

Nada é tão novo pra mim
mesmo que a dor garanta minha fé

se quanto mais aprender

mais vou saber que nada aprendi;

Sou um eterno aprendiz

a maior tolice é não aceitar

se isso me leva a viver

também destrói
vêm me abocanhar...

Estou exposto e mais forte
me tornei mais paciente

já não penso em prejuízo

se voce esta ausente

vejo flores nas paredes

com suas cores ressecadas

e aonde houver paredes

eu construirei escadas;

Sou um pseudo-ninguém

me definir não vai me ajudar

se quanto mais aprender
mais vou saber que nada aprendi

Estou exposto e mais forte
sim, eu sou um pseudo-ninguém
Estou exposto e mais forte,

sim, eu sou um pseudo-ninguém!


Adriano Amendola

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Transcendental



Descobri que perdi muito tempo
pedindo aprovação
Descobri que somos todos leigos
pisando o mesmo chão,

Mas se você quiser sucesso
não vá se esquecer do resto
quanto mais se preocupar
mais ele vai fugir de você
e se você quiser dinheiro
não vá se perder no medo
quanto mais você tiver
mais você vai ter à perder...

O importante é saber!

Descobri o quanto vale a vida
quando quase morri
Descobri que a chuva é minha amiga
eu cansei de fugir,

Mas se você quiser respostas
só vai conseguir vivendo
era mais fácil mentir
fingir que está tudo ok
e se você sentir saudade
não vá se prender ao passado
fechar a mão ao que vêm
é morrer sem saber
não faz bem...

O importante é saber!

Descobri que um sopro
Pode ser um furacão
descobri nas coisas pequenas
a imensidão
que estar sozinho nem sempre é
sinônimo de solidão
e nem todo medo
significado de fraqueza,

Nem toda vontade uma necessidade
nem toda vontade uma necessidade
nem toda loucura uma insanidade
mas algo que afaste a banalidade,

Não tive mais medo do temporal
Pois a vida se renova
o caos é vital
meu Deus, me afaste do que é banal
eu quero o sossego “transcendental”
pra saber.

Adriano Amendola

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Século XXI



Nada é mais certeza, nada mais
nada é mais surpresa, nada mais
sente nessa mesa, esteja em paz
não diga que tanto faz

Quanto mais eu sei
menos eu falo
Quanto mais eu sei
menos eu falo...

Eu busquei minha paz na escuridão
procurei meu mal pedindo a benção
já segui a regra e a excessão
só nunca insisti num só caminho
até chegar

Vivemos no Século XXI
qualquer coisa já virou passado
ficou natural o que era incomum
e agente fica entediado

Quanto mais eu sei
menos eu falo
Quanto mais eu sei
menos eu falo...

GPS não vai ajudar
porque só eu sei o meu caminho
cada templo é uma divisão
pra nos convencer de um só destino
até o sol

Vivemos no Século XXI
qualquer coisa já virou passado
ficou natural o que era incomum
e agente fica entediado

Alguns fazem o mal
e conseguem regalias na Terra
outros fazem o bem
esperando um lugar no céu
Prefiro viver incondicionalmente
incondicional!

Adriano Amendola

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Paz e amor



Paz e amor é a minha religião

minha forma de expressão
paz e amor eu carrego no coração

o norte da canção

Viver em paz
não é querer demais

o que não lhe pertence

pra algo merecer

nós temos que lutar

e não botar e culpa em ninguém

Do fracasso da gente

pode vir de repente

não pense em desistir
é no fracasso que se aprende

Paz e amor é a minha religião
minha forma de expressão
paz e amor eu carrego no coração

o norte da canção

Viver o amor
não é guardar rancor

quando não respondido

pro amor florescer
tem que acontecer
não perca tempo
não é compreensivel


Sofrer o que não se sente
coisa que dá na gente
só não pense em desistir
é no fracaso que se aprende

Adriano Amendola

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Equilíbrio


Dias tristes noites belas
equilíbrio entre o tédio e o caos
na vertigem a fuligem
sem a chuva pode ser fatal

Não vai ter chuva
enquanto se esconder na sombra
pedindo ajuda
sem se ajudar

Meu coração botei na mala
e coloquei o pé na estrada
agora que eu não posso ficar
já somos grandes o bastante
pra sacudir auto-faltantes
imagens parabólicas cenas

Yeah, i'll try, oh yeah, to survive
Yeah, i'll try, oh yeah, i need to feel alive

Sai dessa barca furada, não finja
que tanto faz
isso não ta colando, se liga
tem muito mais
pra adquirir sabedoria
de um filho pródigo sem ver
o que se passa, o dia-a-dia
é muito mais do que você
é muito mais do que
é muito mais
sem ver

Dias tristes noites belas
equilíbrio entre o tédio e o caos
na vertigem a fuligem
sem a chuva pode ser fatal
muitas vozes se entrelaçam
hoje o destino e o acaso se abraçam
em cada pedra da lembrança
nosso castelo é esperança

Adriano Amendola

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Testamento





Vamos brincar de dar nome aos anjos

Vamos sair na rua apontando culpados

Vamos dizer mais uma vez que não somos responsáveis

Pelo que deixamos de fazer e construir

Vamos deixar tudo para depois

Como reféns da rotina que desgasta

Vamos desprezar tudo o que é belo

E jogar todos os sonhos pela janela

Minhas grandes idéias em liquidação

São como folhas que caem no chão de fuligem

Do que sobrou do prazer e da vertigem

Porém, minha ambição se tornou tão pequena

Que nada disso representa um problema;


Queria ler hoje uma carta sua

Mas só tenho lido manchetes obscuras

Bombardeando minha cabeça lunática

Na deficiência automática

De criar fatos e fotos

Do que não foi

Queria saber quem é o pai do acaso

E chamar este homem de Deus

Porque meu destino é o acaso

Todo acaso é um caso

E o meu descaso pelas coisas

É se preocupar demais com você;


A palavra eu,

Melhor trocar por nós

A palavra eu

Melhor trocar por nós

Afinal, até a palavra eu

Precisa de duas letras

Para representar apenas uma pessoa

E nada estará completo

Sem um vício ou um afeto

Nada estará completo

Sem o meu amor por perto.


domingo, 13 de junho de 2010

Anos 80 e o rock nacional



A década de 80 no Brasil foi marcada pela redemocratização política. Havia por aqui, uma geração em busca de identidade, numa época em que não havia internet e nem celulares. A juventude, se ainda manteve alguma esperança no futuro, não desenvolveu posicionamentos políticos claros como nos anos 60 e 70, mas promoveu novos heróis. Motivos pelos quais eram chamados de rebeldes sem-causa e de geração perdida. Contrariando a abertura política do período, a liberdade sexual trilhava o caminho inverso, devido ao novo vírus desconhecido (HIV), que se alastrava rapidamente. Todos esses fatores deram forma e vida ao rock nacional que estava lá, à margem do grande público desde a jovem guarda, e agora, através de seus novos poetas, “cuspia de volta o lixo” da alienação promovida pela ditadura militar na educação e nos meios de comunicação, principalmente a TV.



Se você, como eu, gosta muito de rock e acredita que deveria fazer parte da grade curricular da escola, provavelmente gostará muito desse post. Em alguns momentos, procurei priorizar Renato Russo (Legião Urbana) e Cazuza (Barão Vermelho), que não apenas na minha, mas na opinião de grande maioria dos críticos de música, são considerados os dois maiores expoentes da década perdida. Também podem ser considerados os dois maiores poetas do rock nacional, perdendo apenas para Raul Seixas, que na ocasião, dizia: "eeehhh... anos 80, charrete que perdeu o condutor".

Direto da garagem até o povo



Tomo como ponto de partida desta breve história sobre o rock oitentista brasileiro, o ano de 1982. É quando Evandro Mesquita trouxe a linguagem teatral para sua banda “Blitz” deslanchando o hit “você não soube me amar” nas rádios do Rio de Janeiro e garantindo espaço para as novíssimas bandas do cenário B-rock (uma espécie de “new “wave” tupiniquim). Eram bandas integradas por jovens, que cresceram no período militar, e aproveitaram-se da abertura política para desabafar. Não demorou muito até que outras capitais, como São Paulo, Brasília e Porto Alegre também começassem a descobrir suas bandas, que por algum tempo já fermentavam nas garagens das famílias de classe média, sobre o mesmo contexto do B-rock, mas com certas peculiaridades locais:


Rio de Janeiro: na cidade que revelou Cazuza e a banda Barão Vermelho ao Brasil, o rock contou com forte apoio das rádios e de uma casa de shows até hoje muito famosa, conhecida como Circo Voador.
Algumas das principais bandas:
Gang 90, Lobão, Barão Vermelho, Kid Abelha e Os Aboboras Selvagens, Paralamas do Sucesso.

São Paulo: f
oi marcado pela influência do punk rock e new wave londrino que era apresentado em casas de show alternativas como o Madame Satã e auditórios de colégios. Foi fortemente apoiado pela TV Cultura. Importante ressaltar a banda paulista RPM, que na segunda metade dos anos 80 conseguiu bater todos os recordes de vendagens da indústria fonográfica brasileira.
Algumas das principais bandas:
Ira, RPM, Titãs e Ultrage à Rigor.



banda paulista RPM em 1987

Brasília:
onde atingiram maior teor político e apesar da grande quantidade de bandas de garagem desde o fim dos anos 70, só conquistou relevância no cenário nacional em meados de 1986.
Algumas das principais bandas:
Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial;

Porto Alegre: dividia-se entre o pop de bandas como Engenheiros do Hawai e Nenhum de nós e o punk dos Replicantes, que se destacou mais tarde. Sempre teimou em ser diferente ou rotular-se diferente do resto do país, mania de gaucho. (risos)

Obs: entre as demais capitais se destaca a cidade de Salvador com a banda Camisa de Vênus e seu vocalista Marcelo Nova, que gravou o álbum "A panela do diabo" em parceria com Raul Seixas.

A televisão, popularizada no período militar, se tornou o meio de informação e alienação mais eficaz do país naquela época. Como num paradoxo, artistas que criticavam em suas músicas tal hegemonia televisiva e midiática, tornavam-se populares através da mesma apresentando-se em programas de auditório.



Com a realização do Rock in Rio, um grande festival dedicado ao ritmo, em 1985, o estilo ganhou a confiança das gravadoras e se mostrou rentável no Brasil. Como conseqüência, multiplicava-se a quantidade de bandas em todo país, de qualidade ou não. Destaca-se neste festival o Barão Vermelho e seu vocalista Cazuza.



Barão Vermelho e Cazuza ao centro

Cazuza, Renato Russo e a juventude brasileira dos anos 80

Ninguém melhor representou a contradição que o Brasil passava naquele período do que Cazuza e Renato Russo. Ambos influenciados pela cultura underground de sua época, e também pela contracultura dos anos 60 e 70, procuravam sempre adaptar sua poesia para o contexto nacional e social em que viviam. Como todo jovem de sua época, podiam não saber muito bem o que desejavam, mas sabiam exatamente do que não gostavam:

Cazuza:
“Cansado de correr na direção contrária, sem podium de chegada ou beijo de namorada”: juventude desiludida com a contracultura das duas décadas anteriores;
“Ideologia, eu quero uma pra viver": crise existencial típica do período pós-ditadura;

Renato Russo:
“Eu moro na rua, não tenho ninguém, eu moro em qualquer lugar”: desestruturação familiar causada pela liberação sexual das décadas anteriores;
“Somos os filhos da revolução, somos burgueses sem religião”:o Brasil acabava de passar pelo seu maior período de industrialização e inchamento das cidades devido ao grande êxodo rural;
“Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação”:
contradição do período refletida no pensamento político.

Conclusão:
Rebeldes sem causa ou causadores da rebeldia?



A juventude, no contexto da redemocratização do Brasil, já não queria mais ficar calada e ao mesmo tempo pretendia diferenciar-se dos seus pais. Com o surgimento do b-rock, pela primeira vez, o “rebelde sem causa brasileiro”, pôde consumir uma música criticamente construtiva sem a necessidade de nenhum ativismo. Consumia-se música somente pelo simples fato de identificar-se com artistas que davam voz a juventude.

Passadas duas décadas de democracia, e as músicas que teceram as cicatrizes da ditadura brasileira continuam em grande parte atuais, populares e presentes no subconsciente coletivo. Artistas como Renato Russo e Cazuza agora habitam o imaginário de grande parte dos jovens nascidos nos anos 80 e até 90. O que isto significa? A redemocratização do país foi um período de contradição, inflação, e de grandes desafios para o país ainda muito imaturo politicamente, depois de um longo período governado à mão-de-ferro pelos militares. A população civil, desprovida de seus direitos políticos por décadas, agora precisava tomar decisões. Tais fatos influenciaram a poesia do período, que fez com que as contradições da adolescência se aproximassem da política em sua problemática.ca em sua problemática.