segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Equilíbrio


Dias tristes noites belas
equilíbrio entre o tédio e o caos
na vertigem a fuligem
sem a chuva pode ser fatal

Não vai ter chuva
enquanto se esconder na sombra
pedindo ajuda
sem se ajudar

Meu coração botei na mala
e coloquei o pé na estrada
agora que eu não posso ficar
já somos grandes o bastante
pra sacudir auto-faltantes
imagens parabólicas cenas

Yeah, i'll try, oh yeah, to survive
Yeah, i'll try, oh yeah, i need to feel alive

Sai dessa barca furada, não finja
que tanto faz
isso não ta colando, se liga
tem muito mais
pra adquirir sabedoria
de um filho pródigo sem ver
o que se passa, o dia-a-dia
é muito mais do que você
é muito mais do que
é muito mais
sem ver

Dias tristes noites belas
equilíbrio entre o tédio e o caos
na vertigem a fuligem
sem a chuva pode ser fatal
muitas vozes se entrelaçam
hoje o destino e o acaso se abraçam
em cada pedra da lembrança
nosso castelo é esperança

Adriano Amendola

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Testamento





Vamos brincar de dar nome aos anjos

Vamos sair na rua apontando culpados

Vamos dizer mais uma vez que não somos responsáveis

Pelo que deixamos de fazer e construir

Vamos deixar tudo para depois

Como reféns da rotina que desgasta

Vamos desprezar tudo o que é belo

E jogar todos os sonhos pela janela

Minhas grandes idéias em liquidação

São como folhas que caem no chão de fuligem

Do que sobrou do prazer e da vertigem

Porém, minha ambição se tornou tão pequena

Que nada disso representa um problema;


Queria ler hoje uma carta sua

Mas só tenho lido manchetes obscuras

Bombardeando minha cabeça lunática

Na deficiência automática

De criar fatos e fotos

Do que não foi

Queria saber quem é o pai do acaso

E chamar este homem de Deus

Porque meu destino é o acaso

Todo acaso é um caso

E o meu descaso pelas coisas

É se preocupar demais com você;


A palavra eu,

Melhor trocar por nós

A palavra eu

Melhor trocar por nós

Afinal, até a palavra eu

Precisa de duas letras

Para representar apenas uma pessoa

E nada estará completo

Sem um vício ou um afeto

Nada estará completo

Sem o meu amor por perto.


domingo, 13 de junho de 2010

Anos 80 e o rock nacional



A década de 80 no Brasil foi marcada pela redemocratização política. Havia por aqui, uma geração em busca de identidade, numa época em que não havia internet e nem celulares. A juventude, se ainda manteve alguma esperança no futuro, não desenvolveu posicionamentos políticos claros como nos anos 60 e 70, mas promoveu novos heróis. Motivos pelos quais eram chamados de rebeldes sem-causa e de geração perdida. Contrariando a abertura política do período, a liberdade sexual trilhava o caminho inverso, devido ao novo vírus desconhecido (HIV), que se alastrava rapidamente. Todos esses fatores deram forma e vida ao rock nacional que estava lá, à margem do grande público desde a jovem guarda, e agora, através de seus novos poetas, “cuspia de volta o lixo” da alienação promovida pela ditadura militar na educação e nos meios de comunicação, principalmente a TV.



Se você, como eu, gosta muito de rock e acredita que deveria fazer parte da grade curricular da escola, provavelmente gostará muito desse post. Em alguns momentos, procurei priorizar Renato Russo (Legião Urbana) e Cazuza (Barão Vermelho), que não apenas na minha, mas na opinião de grande maioria dos críticos de música, são considerados os dois maiores expoentes da década perdida. Também podem ser considerados os dois maiores poetas do rock nacional, perdendo apenas para Raul Seixas, que na ocasião, dizia: "eeehhh... anos 80, charrete que perdeu o condutor".

Direto da garagem até o povo



Tomo como ponto de partida desta breve história sobre o rock oitentista brasileiro, o ano de 1982. É quando Evandro Mesquita trouxe a linguagem teatral para sua banda “Blitz” deslanchando o hit “você não soube me amar” nas rádios do Rio de Janeiro e garantindo espaço para as novíssimas bandas do cenário B-rock (uma espécie de “new “wave” tupiniquim). Eram bandas integradas por jovens, que cresceram no período militar, e aproveitaram-se da abertura política para desabafar. Não demorou muito até que outras capitais, como São Paulo, Brasília e Porto Alegre também começassem a descobrir suas bandas, que por algum tempo já fermentavam nas garagens das famílias de classe média, sobre o mesmo contexto do B-rock, mas com certas peculiaridades locais:


Rio de Janeiro: na cidade que revelou Cazuza e a banda Barão Vermelho ao Brasil, o rock contou com forte apoio das rádios e de uma casa de shows até hoje muito famosa, conhecida como Circo Voador.
Algumas das principais bandas:
Gang 90, Lobão, Barão Vermelho, Kid Abelha e Os Aboboras Selvagens, Paralamas do Sucesso.

São Paulo: f
oi marcado pela influência do punk rock e new wave londrino que era apresentado em casas de show alternativas como o Madame Satã e auditórios de colégios. Foi fortemente apoiado pela TV Cultura. Importante ressaltar a banda paulista RPM, que na segunda metade dos anos 80 conseguiu bater todos os recordes de vendagens da indústria fonográfica brasileira.
Algumas das principais bandas:
Ira, RPM, Titãs e Ultrage à Rigor.



banda paulista RPM em 1987

Brasília:
onde atingiram maior teor político e apesar da grande quantidade de bandas de garagem desde o fim dos anos 70, só conquistou relevância no cenário nacional em meados de 1986.
Algumas das principais bandas:
Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial;

Porto Alegre: dividia-se entre o pop de bandas como Engenheiros do Hawai e Nenhum de nós e o punk dos Replicantes, que se destacou mais tarde. Sempre teimou em ser diferente ou rotular-se diferente do resto do país, mania de gaucho. (risos)

Obs: entre as demais capitais se destaca a cidade de Salvador com a banda Camisa de Vênus e seu vocalista Marcelo Nova, que gravou o álbum "A panela do diabo" em parceria com Raul Seixas.

A televisão, popularizada no período militar, se tornou o meio de informação e alienação mais eficaz do país naquela época. Como num paradoxo, artistas que criticavam em suas músicas tal hegemonia televisiva e midiática, tornavam-se populares através da mesma apresentando-se em programas de auditório.



Com a realização do Rock in Rio, um grande festival dedicado ao ritmo, em 1985, o estilo ganhou a confiança das gravadoras e se mostrou rentável no Brasil. Como conseqüência, multiplicava-se a quantidade de bandas em todo país, de qualidade ou não. Destaca-se neste festival o Barão Vermelho e seu vocalista Cazuza.



Barão Vermelho e Cazuza ao centro

Cazuza, Renato Russo e a juventude brasileira dos anos 80

Ninguém melhor representou a contradição que o Brasil passava naquele período do que Cazuza e Renato Russo. Ambos influenciados pela cultura underground de sua época, e também pela contracultura dos anos 60 e 70, procuravam sempre adaptar sua poesia para o contexto nacional e social em que viviam. Como todo jovem de sua época, podiam não saber muito bem o que desejavam, mas sabiam exatamente do que não gostavam:

Cazuza:
“Cansado de correr na direção contrária, sem podium de chegada ou beijo de namorada”: juventude desiludida com a contracultura das duas décadas anteriores;
“Ideologia, eu quero uma pra viver": crise existencial típica do período pós-ditadura;

Renato Russo:
“Eu moro na rua, não tenho ninguém, eu moro em qualquer lugar”: desestruturação familiar causada pela liberação sexual das décadas anteriores;
“Somos os filhos da revolução, somos burgueses sem religião”:o Brasil acabava de passar pelo seu maior período de industrialização e inchamento das cidades devido ao grande êxodo rural;
“Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação”:
contradição do período refletida no pensamento político.

Conclusão:
Rebeldes sem causa ou causadores da rebeldia?



A juventude, no contexto da redemocratização do Brasil, já não queria mais ficar calada e ao mesmo tempo pretendia diferenciar-se dos seus pais. Com o surgimento do b-rock, pela primeira vez, o “rebelde sem causa brasileiro”, pôde consumir uma música criticamente construtiva sem a necessidade de nenhum ativismo. Consumia-se música somente pelo simples fato de identificar-se com artistas que davam voz a juventude.

Passadas duas décadas de democracia, e as músicas que teceram as cicatrizes da ditadura brasileira continuam em grande parte atuais, populares e presentes no subconsciente coletivo. Artistas como Renato Russo e Cazuza agora habitam o imaginário de grande parte dos jovens nascidos nos anos 80 e até 90. O que isto significa? A redemocratização do país foi um período de contradição, inflação, e de grandes desafios para o país ainda muito imaturo politicamente, depois de um longo período governado à mão-de-ferro pelos militares. A população civil, desprovida de seus direitos políticos por décadas, agora precisava tomar decisões. Tais fatos influenciaram a poesia do período, que fez com que as contradições da adolescência se aproximassem da política em sua problemática.ca em sua problemática.

sábado, 5 de junho de 2010

Babel Babilônia















Bem-vindo à Babel Babilônia
As torres não enxergam o chão,
Cumprindo o papel da insônia,
Formigas trabalhando em vão;

Da velha cigarra que canta no underground,
Diz a lenda que não trabalha, mas é feliz,
Mas quem canta também batalha, não leve a mal,
Na tristeza arranca um sorriso de meretriz;

Faço uma canção por seu beijo e por cerveja,
Pra poder sentar do seu lado, na sua mesa,
No sarau eterno da noite da solidão,
Festejar é mais que alegria, é obrigação;

Toda prova não prova nada,
Meus olhos são o coração,
Subo escada, sigo na estrada,
As torres não exergam o chão,
Quero ver de cima da escada,
As torres não exergam o chão,
E dar risada dessa cilada,
Formigas trabalhando em vão;

Auto-ajuda ter paciencia com aspirina,
Automóvel novo-emergente pra andar na linha,
O Brasil tá rico lá fora pra gringo ver,
E pra tanta gente demora pra acontecer.

Adriano Amendola

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Carta aos Amigos



Quando vem o vazio, num momento,
Caio nas armadilhas do tempo,
São amigos que ficam pra trás,
Lá nos dias que não voltam mais;

E no final,
Deixo vencer a teimosia
De insistir na poesia
Como forma de viver,
Como animal,
Vou farejando a minha vida,
Fugindo para me encontrar,
Fugindo...

Venha cantar
O grito mudo das pessoas
Buscando a luz e a direção,
Sentidos...
A vida é
Brinquedo na mão de criança,
O importante é saber brincar,
Amigo;

É mais que um hit de melancolia,
O que faço para lhe confortar,
Na sinfonia eterna do mundo lá fora,
Que não pode parar,
É o momento oportuno em que eu fecho os olhos
Pra poder enxergar,
Meu documento é o semblante, no seu alto-falante,
Quero me expressar
vou mandando uma carta aos amigos,
Carta aos amigos de lá,
vou mandando uma carta aos amigos,
sou pombo-correio sem lar.

E para além dos amigos:

"Um dia
nossa humanidade
atingirá seu objetivo
destruída pela prece
de superar o passado
no desafio de vestir-se bem
aos olhos das obrigações que criou
persiste escrevendo sua história
em cada passo
repassado aos outros"

Adriano Amendola

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A missão de um poeta



Há dias tento atualizar este blog, que fiz com o intuito de praticar a minha escrita. Porém, descobri que acabei perdendo meu talento para a prolixidade neste meio virtual, onde muito se fala e pouco se constrói. Então, recorro aos meus velhos poemas, e aproveito da capacidade de livre interpretação que eles possuem.


Acredito na afirmação de que uma poesia resume um bom livro, mas um bom livro não resume uma poesia. Descrições minuciosas não conseguem resumir paixões, decepções, loucuras e ideais. Pra isso existem os poetas, caso contrário, cientistas e teóricos seriam suficientes para explicar a vertigem que se sente de todo prazer e o receio de toda dor.


O ato de não contentar-se com a mera explicação, e o desejo de lutar contra a obviedade das coisas formam a essência do verdadeiro artista. Toda criança é artista, mas com o passar do tempo, as responsabilidades e obrigações do nosso dia-a-dia, roubam da gente a capacidade de abstrair e imaginar um mundo melhor. Daí, o contentamento vai tomando agente, até nos tornarmos mais um dente dessa grande engrenagem dos sonhos financiados.


Não pretendo levantar bandeiras, nem queimarei as suas. Apenas quero ter a liberdade de andar na contra mão da lógica quando desejar. E mesmo que zombem de mim, terei a consciência de estar tecendo a minha bandeira. Serão bem vindos aqueles que puderem contribuir com alguns trapos. Algumas pessoas se julgam mais dignas, pois seguem ao pé da letra a lógica institucionalizada de seu partido, time ou religião. Não vejo problema em admirar aqueles que são capazes de viver a sua própria utopia, desde que respeite a do próximo.

Portanto, não cabe ao poeta construir novas leis, apenas transmitir novas visões. Considero tudo uma poesia, isso não é “viadagem”, é uma forma confortante de enxergar a vida. É poder contemplar o mundo, e assim, notar o desconhecido de toda rotina. Existem milhões de possibilidades e pouco tempo de vida, por isso devemos extrair o máximo de cada momento. Algumas pessoas chegam ao extremo, tornando-se o próprio momento, enquanto outras se tornam vítimas do passado ou escravas do futuro.

PS: O que escrevo não é auto-ajuda, para isso, tenho amigos e família. São apenas opiniões.



O amor, o tempo e a guerra

Um dia, toda brincadeira fica difícil de se controlar,
Deixando a cabeça cheia de botões que nunca vou apertar,
E já não há soldados, nessa guerra somos todos iguais,
Também não há culpados: os inocentes não se julgam capaz;

Meu amigo,
Não vá dizer que não dá,
Melhor correr perigo
Do que morrer sem tentar;

Já perguntei ao meu passsado se algum dia ele vai me perdoar,
Ele me respondeu - "meu caro, isso não é coisa de se perguntar",
Melhor olhar pra frente, atrás vem gente que só pensa em depois,
E a curiosidade vai matando à todos, um por um, dois em dois;

Meu amigo,
A musa da nova estação,
Não quer brincar comigo,
E abusa a minha atenção, sem ação...

Eu andava em cima do muro, sem saber pra que lado pular,
O meu grito parecia sussurro,
Comparado com a força e o barulho do mar,
E pra não morrer afogado, aprendi nadar também,
Ao chegar a praia estive ao seu lado,
Te falando de amor enquanto falam de guerra;

O amor, o tempo e a guerra,
O amor, a guerra e o tempo,
me leva também...

Adriano Amendola

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Guardando o hoje no dia de amanhã



Para quê escrevo?

Escrevemos por aquilo que consideramos importante lembrar, ou seja, sobre nosso aprendizado. Dessa forma, ensinamos nosso futuro a ser futuro, mas existe um forte movimento no mundo, disseminando a amnésia coletiva, desde os primórdios da civilização. Que parte daqueles que determinam o que deve ser lembrado, e como devemos nos lembrar. Isso explica como vilões constantemente se tornam heróis com o passar dos tempos, e vice-versa.


Portanto, tomo a atitude egoísta de escrever por mim e para mim, não pense que é para você que está lendo agora. Numa atitude solitária, registro o meu "hoje", como forma de resistência ao grande comedor de cérebros que é a nossa moral, condicionada por aqueles que detêm o poder.

Da mesma forma que acumulamos quinquilharias nas gavetas, nos porões e nos quintais, vou guardando meu hoje no dia de amanhã, mesmo que não faça sentido e não sirva pra nada. Porém, o futuro é um grande museu que recicla aquilo que já foi registrado, dito e vivido. Seguirei registrando meu hoje no grande celeiro das fazendas da Google...



TROVADORISMO ASTRAL


Eu vim de outro planeta
e cai no seu quintal,
me leve ao seu governante,
vou dar um ponto final;

pra tantas contradições
em seus preceitos morais,
só não vou bancar o Messias;

Sou viajante do acaso
sem nave espacial,
do reino sem realeza,
trovadorismo astral;

Vim captando ambições,
novelas, telejornais,
e cai no planeta terra;

Eu captei a canção
o rádio e os comerciais,
e ouvi segredos de guerra;

Eu vim de outro planeta,
e agora vim pra ficar,
para cuidar do futuro,
vim do futuro estelar;

Mil anos-luz de uma vez
numa canção de ninar,
é o detonar de uma bomba,
e um dia agente se entende,
e um dia agente se encontra,
então serei sua sombra.

Adriano Amendola